Oligarquia

Apresento-vos o futuro do meu país: meus amigos, a minha geração que se considera feliz. Isto claro, é o que o insta* diz. 

Uma geração cheia de ideias, com voz, sabedoria, que vai contra este governo que só executa leis para a melhoria e favorecimento dos que estão debaixo do seu nariz. Como sei disso? Basta entrar no twitter e ver quantos lutadores estão a combater contra este sistema com uma publicação!

Publicação de pensamentos que na vida real não pensam. Já agora, no que pensa a minha geração? Sabem ao menos quem é o presidente da nossa nação? 

Sabem que o vosso país pertence ao continente africano e não ao oceano? Agora eu sei que sabem, está na moda defender as origens, mas em segredo esboçar um sorrisinho quando são confundidos com os colonizadores, a quem até hoje prestamos homenagens.

Coloniza dores. Somos nós que ocupamos dessas dores ao invés de ocuparmos do que é nosso. Mas a questão é: queremos o que é nosso, ou continuamos a viver para sempre esta utopia de achar que o estrangeiro loiro é melhor?

Quando é que vamos tratar desta hipermetropia e começarmos a enxergar os que estão ao nosso lado e a valorizar a nossa gente? Hummm, só depois de alguns likes, de um reconhecimento mundial e depois jurar que sempre fui fã incondicional.

Até quando teremos artistas e desportistas a levarem passaportes de países elitistas, porque o nosso não tem verba? Até quando o aborto forçado de nacionalidade? Quando voltaremos a fazer parte? 

Mas, há dinheiro para investir na capital, e o resto que venda pastel. A propósito que tal assistires às palestras dos empreendedores para aprenderes e sair dos bastidores da vida e ser o protagonista? Apesar de um governo antagonista.

Vá lá, tu consegues, acredita, deixa de ser preguiçoso e vai à luta! Vai estudar fora ou trabalhar como um filho da puta, mas depois volta, hein?! Não vás agora abandonar a tua pátria amada.

Pátria amada, um amor não correspondido. Se voltares e não conseguires trabalhar ‘tás fodido. Ao menos, estás desgraçado dentro da nossa morabeza, que torna tudo mais suportável, um infortúnio adoçado. Pode ser que a pátria dê oportunidade primeiro aos cretinos que te exploram e ficam com o teu dinheiro, e depois tu ficas com um cheiro. Que tristeza! 

Temos gentileza para oferecer aos que são de fora, não aos que vêm de fora. E não venhas falar disso, quanta insanidade!, pára com este vitimismo e os outros “ismos".

A nossa existência é resistência. Incubiram-nos a responsabilidade de ser inteligente, dirigente, agente e boa gente. Mas tu passas os dias somando cada tostão para bancar o cenário da próxima foto que vais postar, para mostrar que estás a viver a vida de maneira finíssima, que estás em cima.

Às vezes é um post sobre uma ideologia que nem conheces, mas é fixe fazer-se de culto. Porque no meio do tumulto consegues 5 minutos de fama e toda a gente te aclama por reproduzir um discurso que nem é teu. 

Não buscas conhecimentos e nem lês livros porque não gostas de ler. SPOILER: disse a mesma pessoa que passa um dia inteiro nas redes sociais lendo títulos de notícias triviais. E ainda assim não tem tempo para saber quem são os seus oficiais.

Apresento-vos a minha geração, que não fará nada de diferente quando chegar a nossa vez de governação, porque aquilo que a nossa nação repudia será novamente repetida e só mudará o ano da génese da nossa oligarquia. 

Ela vai mudar eu juro

A Ansiedade e eu, temos uma relação. É extremamente abusiva, talvez a mais abusiva que alguma vez já tive. Mas é aquela típica desculpa “pelo menos de todos que passaram ela continua aqui”, e jurar que “ela vai mudar”, “que aconteceu só desta vez”. 

A Ansiedade e eu discutimos sempre, não dá nunca para ter um diálogo saudável com ela, é que sempre digo que vai dar certo e vem ela me dizer que não; hoje ser sexta-feira, mas ela insistir que eu fique em casa porque na segunda eu vou ter aula. Sim eu sei, ela é controladora demais, mas eu juro que ela só faz isso para o meu bem, sabes? Ela se preocupa comigo, com o meu futuro, que preciso dar prioridades aos estudos e quiçá na outra sexta-feira ela permitirá que eu saia. Eu sei que ela não faz por mal.

A Ansiedade e eu às vezes damos conselhos um para o outro, muitas das vezes ela mais que eu. Ela me fala para não falar com estranhos porque eu não sei como tratar um desconhecido, que os meus amigos não me acham suficientes porque realmente eu não sou. E ela tem medo que eu experimente coisas novas, sabes? Aah, é aquele medo bobo de mãe, de não querer deixar o filho ter asas para voar, então ela me fala para não tentar que não vai dar certo, e eu concordo. Também assim não perco o meu tempo me provando o quão mal eu ia ser a fazer aquele projecto dos meus sonhos.

Bom, a Ansiedade e eu refletimos o passado sempre, acho que isso melhora o nosso relacionamento, ela mostra-me onde tenho culpa — TUDO. E que eu preciso lidar com isso para a vida, para não cometer mais erros.

A Ansiedade me machuca, ela me bate, me sufoca, me faz um nó na garganta e sinto uma vontade enorme de gritar, mas ela tapa minha boca. Mas ela vai mudar eu juro, vai melhorar. Até falei com ela estes dias porque nós nos amamos, e o amor espera, cuida, transforma, não é?!

Se me perguntassem o que eu sinto pela Ansiedade, eu diria que o mesmo que levar um tiro e morrer antes que a bala atravessasse a minha pele. Desde sempre escolhi morrer pelo que faço e amo, mas a Ansiedade disse que só fiz merda e amei errado...

O amor ficou e nós fomos embora

Vimo-nos na cafeteria,

depois de toda a nossa história 

e de tanto nos evitar, 

apagar mensagens, 

bloquear o número

e no instagram,

encontramo-nos na cafeteria!

A mesma que ficava à beira-mar, 

com aquele cheiro de café quente que pairava no ar 

misturando com o aroma da maresia.

Dessa vez vestíamos um coração maduro

e os nossos olhos brilhavam 

não por nos reencontrar, 

mas porque o sol batia neles

e cada um deles revelava o trajecto 

que cada um fizera até ali.

Bom, eu nunca fui boa em entender olhares 

apenas admirar os teus

e aperceber-me de que já não eram os mesmos, 

que tinham visto coisas diferentes, 

que traziam uma nova certeza.Acho que agora enxergavas as coisas da vida com mais clareza.

Percebi também que não era só eu que tinha mudado, 

mas que aquele teu corpo trazia um coração revestido de histórias que não foram partilhadas ou vividas comigo, 

logo nós dois que prometemos ser eternos...?

Amei ter-te amado

Eu te amo,
Eu te amei,
Não sei o que vem primeiro,
Mas eu te amo.
Eu te amo pelas promessas que fizemos,
Eu te amo pelos planos que arquitetamos,
Eu te amo pelos filhos que imaginamos ter
e por discutirmos que raça de cão comprar,
Eu te amo pelo respeito que demos ao nosso amor,
Eu te amo pelas lembranças que ficaram,
pela nossa história
que terminou em reticências...
Se alguém me perguntar se ainda te amo,
Eu diria que eu amo o facto
de não teres insistido em ficar.
Porque caso contrário eu não diria mais que "eu te amo"
e sim que "eu te amei",
por causa daquilo que és hoje.

Sou Maria

Sou Maria que é tua mãe, tua irmã, tua tia, tua avó, tua namorada... Sou Maria, o teu primeiro amor,
Maria que humilhaste no corredor,
Maria que difamaste e alguns nomes chamaste,
só porque sabias o meu nome, mas mal conhecias a minha história! Sou Maria que deste flores no dia da Mulher,
mas o respeito acabou à meia noite... Sou Maria que te trouxe ao mundo. Sou Maria que namoraste ao jeito de um vagabundo... Sou eu, Maria, que com cabeça erguida luta pela liberdade que deviamos ter,
mas tu e mais outros acharam que isso era coisa só para homens... Sou Maria que não pode sair à rua sozinha
porque alguns são incapazes de respeitar uma mulher que sai sem companhia. Sou Maria de 30 anos mais nova que tu e que
pensaste em assediar
Sou Maria tua filha sujeita a ser tratada da mesma maneira que tratas as outras...
Sou Maria igual às outras,
com um vontade imensa de mostrar a força feminina, mas há quem pense ainda que não há pior sentença que ser Mulher. Sou Maria que veio te dizer, Maria: as coisas hão de mudar se deixarmos de aceitar a igualdade e assumirmos as diferenças - e uma delas é que nós somos virtuosas!

Sociedade assassina

Sociedade assassina Somos todos culpados pela morte um do outro, Dizemos que ele morreu de uma hemorragia, Ela por causa de uma pneumonia... Mas a verdade é que ele morreu
por se transbordar de dor e carregar o fardo
que a sociedade lhe pusera de ser negro,
porque o brilho da sua pele era mais chamativo de dia... Ela morreu por causa da frieza,
da indiferença e do massacre nos olhares
de quem não respeitava o seu interesse sexual,
quem lhe dizia "só envolves com mulheres
porque ainda não conheceste um homem à tua altura"... Porquê fazer isso Sociedade? Porquê rotular as pessoas? Invés de ver a cor da pele,
olhe a veracidade do sorriso branco,
amarelado, torto, olhe a alegria de quem se ama, independentemente da sua preferência sexual, crença, cor de pele... 

Se elas são capazes de se amarem,
porquê tu achas ter o direito de as odiar? Sociedade assassina Que nos diz para sermos o que realmente somos,
mas não da forma que queremos,
sociedade que reprime o vandalismos nas ruas,
mas incentiva o vandalismos nas pessoas...

O peso da beleza

Sou feita de amor com uma pitada
a mais de chocolate e cachorro quente,
pizza, batata frita... Sou igual às minhas amigas magras (mais enxutas?)
tenho sentimentos, tenho sonhos,
tenho minha coragem, minhas inseguranças, tenho meus desejos, minhas qualidades e defeitos e um corpo perfeito. Um corpo igual a um caderno de poesia,
cheio de versos que alguns chamam de estria, aqui tenho histórias e aprendi que uma mulher,
independente de seus dígitos no peso, só mostra a sua prosa a quem sabe ler,

a quem entende,
e tem respostas para cada "dobrinha" do seu corpo,
que representa um ponto de interrogação
de todas as suas inseguranças. Já tentei dietas absurdas,
hoje quero experimentar as melhores sobremesas, já me matei em exercícios,
hoje me mato de amor próprio, já vesti roupas largas para disfarçar minhas curvas,
hoje eu escrevo este poema usando um vestido curto,
preto - são destes vestidos que eu gosto. Um dia quis encontrar quem me amasse pelo que sou,
e não quem me obrigasse a fazer dietas,
ou parasse de comer aquilo que eu gosto...
e encontrei, no dia em que me olhei no espelho!