sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Oligarquia

Apresento-vos o futuro do meu país: meus amigos, a minha geração que se considera feliz. Isto claro, é o que o insta* diz. 

Uma geração cheia de ideias, com voz, sabedoria, que vai contra este governo que só executa leis para a melhoria e favorecimento dos que estão debaixo do seu nariz. Como sei disso? Basta entrar no twitter e ver quantos lutadores estão a combater contra este sistema com uma publicação!


Publicação de pensamentos que na vida real não pensam. Já agora, no que pensa a minha geração? Sabem ao menos quem é o presidente da nossa nação? 


Sabem que o vosso país pertence ao continente africano e não ao oceano? Agora eu sei que sabem, está na moda defender as origens, mas em segredo esboçar um sorrisinho quando são confundidos com os colonizadores, a quem até hoje prestamos homenagens.


Coloniza dores. Somos nós que ocupamos dessas dores ao invés de ocuparmos do que é nosso. Mas a questão é: queremos o que é nosso, ou continuamos a viver para sempre esta utopia de achar que o estrangeiro loiro é melhor?


Quando é que vamos tratar desta hipermetropia e começarmos a enxergar os que estão ao nosso lado e a valorizar a nossa gente? Hummm, só depois de alguns likes, de um reconhecimento mundial e depois jurar que sempre fui fã incondicional.


Até quando teremos artistas e desportistas a levarem passaportes de países elitistas, porque o nosso não tem verba? Até quando o aborto forçado de nacionalidade? Quando voltaremos a fazer parte? 


Mas, há dinheiro para investir na capital, e o resto que venda pastel. A propósito que tal assistires às palestras dos empreendedores para aprenderes e sair dos bastidores da vida e ser o protagonista? Apesar de um governo antagonista.


Vá lá, tu consegues, acredita, deixa de ser preguiçoso e vai à luta! Vai estudar fora ou trabalhar como um filho da puta, mas depois volta, hein?! Não vás agora abandonar a tua pátria amada.


Pátria amada, um amor não correspondido. Se voltares e não conseguires trabalhar ‘tás fodido. Ao menos, estás desgraçado dentro da nossa morabeza, que torna tudo mais suportável, um infortúnio adoçado. Pode ser que a pátria dê oportunidade primeiro aos cretinos que te exploram e ficam com o teu dinheiro, e depois tu ficas com um cheiro. Que tristeza! 


Temos gentileza para oferecer aos que são de fora, não aos que vêm de fora. E não venhas falar disso, quanta insanidade!, pára com este vitimismo e os outros “ismos".


A nossa existência é resistência. Incubiram-nos a responsabilidade de ser inteligente, dirigente, agente e boa gente. Mas tu passas os dias somando cada tostão para bancar o cenário da próxima foto que vais postar, para mostrar que estás a viver a vida de maneira finíssima, que estás em cima.


Às vezes é um post sobre uma ideologia que nem conheces, mas é fixe fazer-se de culto. Porque no meio do tumulto consegues 5 minutos de fama e toda a gente te aclama por reproduzir um discurso que nem é teu. 


Não buscas conhecimentos e nem lês livros porque não gostas de ler. SPOILER: disse a mesma pessoa que passa um dia inteiro nas redes sociais lendo títulos de notícias triviais. E ainda assim não tem tempo para saber quem são os seus oficiais.


Apresento-vos a minha geração, que não fará nada de diferente quando chegar a nossa vez de governação, porque aquilo que a nossa nação repudia será novamente repetida e só mudará o ano da génese da nossa oligarquia.