sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Um dia fui embora de mim mesmo


Um dia que durou 366 dias! Cansei de mim, das opiniões alheias, do que os outros achavam que eu deveria fazer, e fui embora de mim mesmo. Saí e fui fumar um cigarro, eu que nunca fumei!
Saí e fui embebedar-me num bar qualquer, eu que era adepto de um café e uma boa conversa num lugar tranquilo... Saí de mim e fui à procura de um novo corpo para me encarnar, como se eu fosse alguma alma penada que nem Deus nem diabo quisera.
Perdi-me na futilidade, quando fechei a porta de "mim mesmo" Fiquei nu, porque achei ser mais fácil ficar nu e ir embora, do que permanecer e despir o coração! Fui embora de mim mesmo, e quase que não encontrei o caminho de volta...

E não esperei que o ano terminasse, nem lamentei à espera do "ano novo" "vida nova", apenas escrevi a última página de mais uma saga da minha vida, esperando continuá-la...

Um dia voltei para mim mesmo e não gostei do corte que os outros me indicaram, não gostei do símbolo da tatuagem que meus amigos me mandaram fazer, não gostei das roupas que eu usava e que a sociedade dizia estar na moda, até reprovei o sabor daquela vodka que antes eu dizia gostar porque os outros bebiam...
Voltei e fechei as portas e fui reconquistar-me!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Solitude

Aprecie a tua companhia Descubra a tua sabedoria, vivência, o melhor de ti e partilha contigo mesmo.
Em meio à multidão fecha as janelas e as portas
e dê um passeio com os teus pensamentos. Deixa o velho "eu" conhecer uma nova pessoa, profunda,
alguém que tem a ousadia de ser o que verdadeiramente é, neste mundo de teatro - tu! Às vezes, quando chega aquele sentimento de não saber o que se está a sentir,
é o momento que o nosso coração deseja solitude
e pede que procuremos a nossa felicidade, sem sair do lugar...
Não deposite em ninguém a obrigação de te tornares melhor! Esquece a utopia,
esquece aquela lista de amigos como quem procura alguém para uma noitada... 

Escolhe o teu nome de entre os outros da lista
e seja também o amor que nunca recebeste!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Sou Portadora de HI(Vida)

Sou portadora de HIV! Não, não preciso de seu pesar, nem me julgues por isso. Sou portadora do HIV!

"Burra, não te ensinaram a usar preservativo na escola?" "Quem te mandou perder a pureza tão cedo?"
Mal sabem que fui infectada pela minha mãe à nascença! "Mãe desnaturada, suja, com certeza foi uma gravidez indesejada. Coitada, nasceu logo condenada a carregar o fardo que a mãe lhe entregou desde o ventre. Ventre? Pocilga! 
E como se não bastasse, é órfã de pai vivo!" Fui uma criança portadora de HIV!
Vivi toda a minha vida ouvindo o adiamento da minha morte. "Tem mais um ano de vida... Ah! Afinal são mais dez... Se a injectarmos algum retroviral, talvez viva mais algum tempo..."
Cresci sendo tratada como uma roupa velha, remendada, estropiada para durar um pouco mais.
Fui uma adolescente portadora de HIV! Marcada e rotulada na escola pelos colegas que não sentavam comigo, nem me davam um aperto de mãos.
Não dei o meu primeiro beijo, e nem tive o meu primeiro namorado na adolescência.
Eu não era diferente, eu era tratada com indiferença. Às vezes, eu negligenciava os remédios, para quê que eu os queria?, nunca me curariam. Talvez aumentassem o meu tempo de vida, mas viver para quê?, eu era tratada com indigência! Sou uma adulta, portadora de HIV! Foi-me negado o direito ao trabalho, como se eu fosse uma inválida...
Participei das marchas de sensibilização sobre o HIV, mas só vi pessoas que de momento apoiam e defendiam a causa, e no outro nem se lembram da existência desta doença, "agora só para o ano que vem!"
Sou Portadora do HI(Vida)! Descobri a vida, e que o HIV não é um "raio" que atinge uma pessoa.
Não me preocupo com a cura, descobri que viver é a cura!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

As confissões da Avenida Marginal

Avenida Marginal,
pelo nome estranhamos mas ao contemplar a sua vista adoramos... Um lugar de inspiração o lugar certo para tirar uma foto, que imprime talento ao mais desajeitado fotógrafo. 
Avenida acolhedora, alcoviteira dos casais enamorados sentados nos beirais da noite apreciando a sua magia... Avenida marginal, acredito que se pudesses falar Serias a voz dos poetas que te cruzam Falarias da alegria das crianças que brincam no teu regaço Falarias dos solitários que atiram pedras na fímbria do mar como se fossem os seus males para que as ondas os levem para bem longe! Falarias dos amantes de mãos trocando juras, trocando beijos Falarias dos poetas embriagados pelo luar dos bêbados em coro às altas horas...
Falarias também da pressa dos que trabalham, tão tristes e cansados alheios ao encanto do sol poente dando cores ao céu de Mindelo ou as luzes dos barcos e dos postes que embelezam a noite...

Falarias daqueles que procuram libertar-se dos seus males através do fumo de um cigarro... Falarias também de ti mesma sussurrando aos ouvidos do teu amigo Monte Cara os segredos dos amantes descuidados.
Marginal, o palco mindelense dos amores e dissabores. A vida inteira num desfilar na Avenida Marginal...